
O ex-prefeito de Resende Diogo Balieiro do Kaio usou as redes sociais esta semana para se promover em cima de uma viagem para Brasília, tentando vincular a imagem dele a recursos federais na cidade do sul fluminense.
Se não tiver sido este o caso, Diogo pode ter perdido uma grande oportunidade de viabilizar junto ao Ministério da Saúde o credenciamento ao SUS do Hospital do Câncer de Resende, usado por ele para marketing político desde 2021.
Há quase quatro anos, o político desapropriou um antigo hospital particular no bairro Jardim Jalisco. De lá pra cá, Diogo utilizou a obra em diversas vezes como palanque eleitoral, R$ 40 milhões em anúncios de recursos públicos, sem resultado prático e denúncias de pagamento de propina, inclusive para ele.
Sem verba do SUS
O ex-prefeito pode ter se aproveitado politicamente do apelo social, de familiares e pacientes que sofrem com a doença. Porém, ele nunca admitiu que a unidade hospitalar não poderia receber verba do SUS para funcionar. Em abril, no entanto, o atual prefeito de Resende, Tande Vieira, que era secretário de Saúde em 2021, reconheceu que a unidade hospitalar não conta com a verba federal para seu funcionamento.
“Queria fazer dois pedidos… um ao ministro Padilha, grande ministro, que faça revisão da nossa política nacional de prevenção e controle do câncer… Resende está construindo um hospital do câncer, mas o modelo atual não permite que a gente tenha acesso ao financiamento federal”, declarou o prefeito diante do presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckimn e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, entre outras autoridades, durante o evento de uma montadora da cidade.
Assista o vídeo.
Propina
Recentemente, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro recebeu uma denúncia sobre a identidade de uma mulher supostamente usada pela terceirizada Fire Works, responsável pela obra, para pagamento de propina a políticos de Resende, entre eles Diogo Balieiro e Tande.
Segundo a denúncia, a suspeita seria Fernanda de Araújo e os repasses teriam como origem as transferências da prefeitura de Resende à Fire Works através de dois contratos: a reforma de um antigo hospital anunciado como futura sede de um hospital do câncer e a construção de um centro cirúrgico nas dependências do hospital municipal de emergência. As contratações somam quase R$ 23 milhões e as obras estão mais de um ano atrasadas, segundo outras denúncias já encaminhadas ao MP.
As informações levadas ao conhecimento do MP apontam duas contas bancárias de Fernanda, além da conta da Fire Works, para um eventual cruzamento de dados em caso de quebra de sigilo bancário. Além disso, o MP também foi informado dos possíveis endereços da suspeita.
“Informo que, caso o MP encontre a Sra. Fernanda e consiga judicialmente a quebra de sigilo bancário e telefônico dessa meliante, logrará êxito em desbaratar não só os esquemas espúrios de propina da Fire Works, mas também outros, que tanto lesaram o erário e ajudaram a promover políticos corruptos como os senhores Diogo e Tande, que saquearam os cofres públicos através da saúde e outras áreas”, diz a denúncia.

Mais denúncia ao M P
Outra denúncia recente ao MP ressalta o marasmo da obra do hospital do câncer e de um centro cirúrgico, ambos com indícios de superfaturamento. De acordo com a denúncia, a prefeitura de Resende celebrou um total de R$ 22,9 milhões nesses dois contratos com a construtora Fire Works, em dezembro de 2022 e em junho de 2023.

Quatro anos de conversa e R$ 40 milhões

Em 2021, o ex-prefeito e o então secretário de Saúde Tande Vieira anunciaram a desapropriação de um hospital particular no Bairro Jardim Jalisco por cerca de R$ 5 milhões, a fim de que o local fosse reformado para construção de um posto oncológico ligado ao Serviço de Oncologia (ONCOBARRA), sediado em Barra Mansa, que é a unidade de referência do SUS para tratamento de câncer no sul fluminense. A informação não foi confirmada pelo ONCOBARRA e a prefeitura de Resende até hoje não esclareceu como irá manter um Hospital do Câncer sem verba do SUS.
Em abril de 2023, Diogo e Tande, então deputado estadual, receberam o então secretário de saúde Dr. Luizinho e um cheque simbólico de mais de R$ 27 milhões para o Hospital do Câncer, entre outros. Naquela ocasião, a prefeitura de Resende já havia anunciado a construção de um centro cirúrgico de cinco salas no Hospital Municipal Henrique Sérgio Gregori ao preço de R$ 7 milhões. A obra, também a cargo da Fire Work, permanece inacabada após umas de um ano do prazo contatual.
As obras do Diogo e Tande podem ter drenado milhões de dinheiro público, segundo a denúncia. A se comparar os preços dos contratos da prefeitura de Resende com obras de maior porte, essa possibilidade ganha força. Para se ter uma ideia dessas distorções, o contrato 97/2023 previa R$ 15.811.940,66 para reforma do antigo hospital Policlínica no Bairro Jardim Jalisco, um prédio de três andares. Esse montante é 70% dos R$ 23 milhões que a prefeitura de Novo Hamburgo (RS) anunciou para a construção do Anexo II do Hospital Municipal da cidade gaúcha.
O outro contrato (257/2022), de R$ 7.092.616,91 para a construção de um centro cirúrgico com cinco salas, é 140% superior ao R$ 3 milhões investidos pela prefeitura de Contagem (MG) para construção do Centro de Cirurgia e Traumatologia do Complexo Hospitalar da cidade mineira.
Moradores pagam a conta

Recentemente, uma reportagem do blog jornalístico RJ Informa mostrou o drama dos moradores com a realidade caótica da saúde de Resende, retratado através de duas postagens nas redes sociais por duas internautas. Apesar do desarranjo administrativo de Tande, a reportagem mostrou que o atual prefeito de Resende herdou uma bomba de Diogo Balieiro do Kaio, responsável por endividar a cidade em cerca de R$ 320 milhões através de diversos empréstimos bancários enquanto celebrava contratos com suspeita de superfaturamento e, inclusive, denúncia de pagamento de propina.